mais uma noite, mesmo banco, mesma espera estressante depois de um dia estonteante. talvez tivesse alguma coisa de diferente, eu sabia que meu ônibus ia demorar porque o vi saindo para dar o radial assim que cheguei na terminal. entro, olho para trás, me despeço do meu amor , cumprimento uma conhecida , sigo meu caminho e sento, pronto para mais uma dose de espera. como sempre, fico a observar todo mundo que "passeia" pela integração . gente de todo tipo, mas principalmente os jovens, os coloridos e "emos", e os velhos, eu tenho uma certa curiosidade com o comportamento deles. tudo dentro dos conformes, nada de interessante. nesse meio tempo, chega uma mãe com seus dois filhos,um casal de no máximo 7 anos, sendo o menino mais novo, ambos chupando o "caldo" de seus respectivos milhos cozidos, recém comprados. a mãe, senta no banco da minha frente, começa a mexer no celular e numas sacolas que consigo estava, a menina senta no banco a direita dela e parece reservada, fala baixo. o menino, que tem cara de guri buchudo, ficou em pé em frente a irmã. eu sério e observador, como habitualmente, segurei o riso para não passar vergonha quando o moleque deixou cair o milho no chão, novinho, sem nenhuma mordida. a mãe explodiu :
- "EITA MENINO LESO,DÁ VONTADE DE FALAR UMA MERDA COM UMA COISA DESSA...." , daí o guri ficou lá, com cara de choro e bicão, olhando pro milho da irmã. ninguém o consolava. eu fiquei pensando :
- "será que ela vai dar um pedaço ? isto parece com aquela cronica da sala de aula..." . passaram alguns minutos e nada. mas também do nada, a menina disse :
- "mãe, parte um pedacinho pra Italo ?", o moleque sorriu. eu dei um riso. a mãe pegou o milho da filha, torou-o em duas partes, o menino pegou a maior e ainda recebeu o grito :
- "AGORA DERRUBE ESSE, LESEIRA!" , ele riu e começou a comer. tá, tudo bem que não é coisa demais, mas de duas crianças que não sabem de nada do mundo, vem um gesto de irmandade e compaixão com o outro de sinceridade, coisa que hoje em dia, com todo conhecimento acumulado, dos adultos, e forjado, dos jovens, não existe. nesse mundo cão, ainda existem pequenas surpresas que nos fazem sorrir um pouco, pela pureza. quando o meu ônibus chega, ainda escuto a mãe dizendo :
- "menino, larga esse sabugo, não tem mais nada aí!"
- "mas mãe, deixa eu chupar o caldin..."
12 julho 2010
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