19 julho 2010

inesperado já conhecido

mais uma noite, mesmo banco, mesma espera estressante depois de um dia estonteante. talvez tivesse alguma coisa de diferente : sentam-se duas mulheres na minha frente. aparentemente normais, mas logo depois mostrou-se a verdade, quando a de branco falou :

- mulhé, para queta , tu tá bêba.
- a culpa é de Sérgio.... - responde a de preto.

sinceramente, não pensei que ela estivesse bêbada , nem parecia, o olhar continuava com foco. mas as aparências enganam, não ? ela olha pra mim e pergunta :

- menino, tu me empresta teu celular ?

" como ela sabia ? ah! me viu olhando a hora, no mínimo " , pensei.

- pra quê tu quer meu celular , mulher ?
- pra eu ligar a cobrar...
- mas se é pra ligar a cobrar, porque não liga do teu ? - indaguei rindo.
- mas o meu ... Sérgio não atende...

ela se levanta e senta do meu lado, coloca a mão no meu joelho e ,olhando nos meus olhos, disse :

- vai menino, me empresta ai teu celular vai ? - enquanto isso, a de branco se levanta fazendo um gesto de não com a mão direita. eu então, percebendo que não era pra emprestar o celular disse :

- menina, não dá não, meu celular tá com o visor quebrado, ai tu sabe né ? só recebe...
- oush Calina, quem já viu ficar assim ? tu sabe lá se o menino tem namorada pra ficar pedindo o celular dele!
 - eu não quero namorar com ele , só quero o celular dele... oh não...aff... como eu vou ligar pra Ségrio ? ein mulher ? ...  - disse virando-se para a amiga e tirando os saltos que estava usando,  depois dobrou as pernas e quase começa a chorar, feito criança. daí encosta a cabeça no meu ombro e fica lá, meio que chorando.
eu me vangloriando por nunca ter ficado nesse estado MUITO etílico. tudo bem que eu estava mais ajudando que atrapalhando, se fosse um cara maldoso, teria tirado proveito. enquanto a "de branco"  estava tentando ligar para um amigo dela que era motorista de transporte alternativo, fui tentando enrolar a cheiro-de-cana para não fazer alguma merda. nesse meio tempo,ela me esbofeteou duas ou três vezes , o porquê ninguém sabe.  depois de um tempo, a amiga da bêbada consegue marcar com o motorista e ele vem pegá-las em frente a integração. nos momentos finais, enquanto a de preto estava calçando os sapatos , eu pergunto a mulher "de branco" o motivo da bebedeira , ela logo responde : "é por causa de macho".
xi.... é complicado.
- tchau menino, desculpai qualquer coisa e brigado por aguentar viu ? - disse a "de branco"
- certo, eu não esquento não, só tome cuidado com ela - risos. quando falei isso a bêba se levantou e se atracou com um senhor que vinha atravessando o terminal , falou alguma coisa no ouvido dele e ele riu. a "de branco" saiu correndo, agarrou a amiga e seguiram para a saída da integração. durante o percurso, a "de preto" ainda se agarra com duas mulheres, que depois riram e comentaram com as amigas : "vocês viram ? a mulher morta de bêbada ali, coitada... " depois que vi que o grupo de idosas fazia parte da igreja. por fim, perdi a visão das duas jovens. eu fiquei rindo ,interiormente, e com o pessoal que sentou na cadeira onde elas estavam. não era um riso de graça, era um riso de pena, de reprovação. a graça era a desgraça com falta de pudor da nossa amiga Caline. talvez um dia eu a reencontre lúcida e com certeza eu irei sorrir, de graça, mas nem vou falar com ela, talvez ela não queira ser lembrada para não sentir a vergonha que o álcool a tirou.

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